segunda-feira, 22 de maio de 2017

O Abraço



Eu estava só no  prédio N-2 em Prashanthi Nilayan.
Era meu último dia ali antes de continuar a viagem.
Na manhã seguinte bem cedinho o táxi viria me buscar.
Estava me sentindo um pouco melancólico , talvez pelas lindas lembranças que no passado ali vivi . Talvez por pensar que Swami não aprovasse a minha visita a MDH.
Decidi então sair do quarto e caminhar pelo ashram até a cantina ocidental pois o horário do almoço se aproximava. Desci as escadas do prédio e caminhei pela avenida que passa diante do templo de Lakshmi e do templo de Gayathri Devi. Um dia muito claro e ensolarado.
Caminhava devagar submerso naqueles pensamentos quando do lado direito observei várias senhoras em seus sarees multicoloridos sentadas nos bancos laterais da rua e mais adiante um grupo de senhores mais velhos com identificação de voluntários  do ashram conversando tranquilamente.
Percebi então caminhando em minha direção um jovem , com roupas brancas e lenço azul nos ombros que identifica os voluntários ( seva dals),
Tinha um olhar sereno e um sorriso largo, e se aproximava de mim como se me conhecesse.
Agora é que notei algo estranho pois, ele se aproximou de mim interrompendo a minha caminhada e ficando muito perto, aproximadamente à um palmo de distancia. Esse comportamento é algo incomum para um indiano, ainda mais para um jovem aluno dentro do ashram. Quando os alunos por curiosidade  tentam interagir com os devotos estrangeiros logo são advertidos pelos mais velhos para se comportarem dentro do esperado. Olhei para o grupo de sevas mais velhos e estes pareciam não estar nos vendo. Olhei para o grupo de mulheres e estas também pareciam não perceber nada.
Rapidamente olhei de volta para o jovem e retribui o sorriso.
Ele então me perguntou em inglês: "Are you feeling well? "( Você está se sentindo bem?)
Pensei comigo mesmo que estas palavras eram estranhas para um jovem vir falar comigo!
Respondi então que sim, queme sentia bem.
Ele então sempre sorrindo me perguntou novamente em inglês: " Are you happy?"  ( Você está feliz?)
Nossa! Conheço estas palavras!
 Respondi admirado : "Yes! I'm Happy!" ( Sim! Estou feliz!)
Então aconteceu algo que não esperava...
 O jovem me deu um abraço!

Isso me surpreendeu de tal forma que o tempo parecia ter parado.
Fiquei atônito e feliz, em grande ananda.
Ele me soltou e sem falar mais nada caminhou na direção de onde eu tinha vindo.
Fiquei parado olhando ele se distanciar em um passo calmo sem falar com mais ninguém até virar a esquina da rua dos blocos de acomodação "N" até sumir da minha visão .
Sentei no meio-fio tentando entender o que tinha acontecido ali .
Lembrei-me imediatamente da história de Tulsidas* e uma alegria radiante em meu peito eliminou todos os pensamentos de dúvida e sentimentos de melancolia.
Havia recebido o Darshan do Meu Senhor !
Ele tirara todas as dúvidas e me abençoou permitindo continuar a viajem para Muddenahalli no dia seguinte .










*Um dia Tulsidas saiu para executar o Parikrama (circumambulação) da montanha de Kamadgiri.
Viu dois príncipes, um escuro e outro claro, vestidos com vestes verdes passando montados a cavalo. Tulsidas estava encantado com a visão, mas não conseguia reconhecê-los e tirar os olhos deles. Mais tarde Hanuman perguntou a Tulsidas se tinha encontrado Rama e seu irmão Lakshmana em cavalos. Tulsidas estava decepcionado e arrependido. Hanuman assegurou a Tulsidas que ele teria a visão de Rama mais uma vez na manhã seguinte. Tulsidas recorda este incidente em uma canção do Gitavali e lamenta como "seus olhos viraram seus próprios inimigos" permanecendo fixo ao chão e como tudo aconteceu em um relance.  Na manhã seguinte, quarta-feira, o dia da lua nova de Magha, Vikram 1607 (1551 CE) ou 1620 (1564 dC) de acordo com algumas fontes, Rama novamente apareceu a Tulsidas, desta vez como um jovem. Tulsidas estava fazendo pasta de sândalo quando um jovem veio e pediu um sândalo Tilaka (uma marca religiosa na testa). Desta vez Hanuman deu uma dica para Tulsidas e ele teve uma visão completa de Rama. Tulsidas estava tão encantado que se esqueceu do sândalo. Rama tomou a pasta de sândalo de suas mãos e colocou um Tilaka na sua testa e na testa de Tulsidas antes de desaparecer.

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